31 de março de 2016

Quanto vale um filme

Cá estou eu de novo para escrever obre cinema nacional!

Por quê? Porque acho que muitas questões ficaram em aberto desde o ultimo post sobre o tema.

Bom, hoje vou fala um pouco sobre distribuição e orçamento, e sobre porque a maior parte das pessoas nunca ouviu falar de filmes nacionais como Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo, Insônia, Anita e Garibaldi, O Rio Cigano, Boi Neon, Destino, Walachai, e muitos outros.


Como foi dito no outro post, o maior problema que filmes autorais encontram hoje é a distribuição. Isso porque geralmente é necessário fazer parcerias com distribuidores e exibidores que comprem a ideia do filme, e é por isso que as comédias chanchadas fazem muito mais sucesso, porque para o distribuidor é mais seguro lançar um filme como De Pernas pro Ar do que Boi Neon. O que acontece é que a maior parte desses filmes não são lançados, e quando são, tem apenas um numero escasso de salas de cinemas para serem exibidos. Restando-lhes assim apenas o lançamento em DVD e parcerias com emissoras de TV.

A Ancine (Agencia Nacional de Cinema) possui o Fundo Setorial do Audiovisual, que é um fundo destinado a toda produção nacional, entretanto não corresponde com o número de filmes produzidos de forma independente. Assim também é com os editais e prêmios, que, apesar de terem crescido muito nos últimos tempos, ainda não consegue atender a toda a numerosa produção brasileira. Outra forma de arrecadação de fundos é buscar empresas privadas que apoiem o projeto. Por meio da Lei Rouanet, os realizadores do filme podem buscar empresas que o apoiem em troca de isenção fiscal. É bem simples ter um projeto aprovado pela Lei Rouanet, só é preciso que ele se adeque as diligencias que nada mais são do que formalidades. O grande problema se encontra em conseguir empresas apoiadoras, já que estas costumam avaliar se o projeto é lucrativo, daí entre um filme autoral (como Walachai) e um filme com alto teor comercial (como De Pernas pro Ar) fica fácil escolher qual apoiar. A meu ver, o grande problema desta lei é que busca privatizar a cultura, de forma que só se valoriza trabalhos que tenham valor de mercado, tirando a chance de grandes projetos.
E mesmo que se consiga a captar recursos por meio da Lei Rouanet, em geral não cobre todo o orçamento para grandes produções, o que faz com que os realizadores recorram a mais de um recurso, combinando a captação com editais para a realização do filme.

Então, quanto custa fazer um filme?

“Fazer filmes” é bastante caro, equipamentos, equipe, locação, elenco, arte, figurino... Tudo num filme é muito caro, de forma a mover quantias entre 1 milhão e 1,5 milhão, isso economizando bastante, e inventando formas baratas (sim, esses valores estão abaixo do padrão do mercado, e é assim que o cinema independente se vira...).

Agora pense: o filme O Som ao Redor custou 1,8 milhão; o filme De Pernas pro Ar 2 custou 6 milhões. Difícil entender a discrepância, não é? Para os realizadores de O Som ao Redor foram necessários dois anos e uma combinação de editais apoios e prêmios para a captação de recursos. Isso resultou num filme belíssimo, plástico, forte, (que você pode conferir a crítica aqui) e incrível! Com mais de 3 vezes esse orçamento e a facilidade de ser da Globo Filmes, De Pernas pro Ar se apresenta como mais uma comédia chanchada com alto apelo comercial e baixíssima qualidade.

Esse é o ponto em que eu queria chegar: fazer cinema de qualidade no Brasil tem sido bem difícil, difícil de fazer, de distribuir, de exibir. Mas duas notícias me deixaram muito feliz essa semana, a primeira é que foi lançado ontem, terça-feita, o circuito SPCine, que é um circuito público de salas de cinema, que exibirá filmes gratuitos! Com 25 salas, já é a segunda maior rede exibidora da cidade, perdendo apenas para o Cinemark! Isso é muito bom, porque além e levar filmes gratuitos à algumas periferias da cidade, dará oportunidades aos muitos filmes que são produzidos aqui no Brasil e ficam a espera de salas exibidoras.

A segunda notícia que me deixou felicíssima, não é uma notícia nova, mas eu não tinha conhecimento, existe uma lei que torna obrigatória a exibição de filmes nacionais em salas de aula de escolas públicas. Essa lei, é relativamente nova, de 2014, e, pelo que eu sei não tem sido colada em prática, mas já é um bom começo para que cobremos das escola a exibição das tais duas horas mensais obrigatórias. Mais do que ampliar as formas de apresentação de conteúdo para os alunos, a lei possibilita que filmes sejam discutidos como produções cinematográficas, não só como conteúdo de história, biologia e etc, mas como arte. A lei é válida para todo o Brasil e você pode ler mais sobre ela clicando aqui.

Portanto, gostaria de pedir a quem estiver lendo este post que enalteçam o cinema nacional sempre que for possível. Não as comédias-chanchadas-Fabio-Porchat, mas o cinema autoral. Neste momento temos dois ótimos filmes autorais nacionais nos principais cinemas que são Boi Neon e Ela Volta na Quinta. Em São Paulo (sou de SP, não sei dar indicações de outros lugares... sorry!) existem ótimas salas de cinema que costumam passar esse tipo de filme que são Caixa Belas Artes, o Reserva Cultural, CineArte (no Conj. Nacional, ao lado da Livraria Cultura), Matilha Cultural, Cine Olido e Cinusp, nesses cinemas quase sempre encontramos boas produções brasileiras. E lutemos para que seja obrigatório cinemas grades como o Cinemark e o PlayArte exibam filmes brasileiros em suas salas (e o Netflix também!)!

E não deixe de assistir O Som ao Redor, está no Netflix!!

Postado por Tamires Moura

10 comentários:

  1. This is the other helpful article I found here. Especially this post., I really love it. I recommend other blogger visit and read some post here.

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  2. Oi Lu! Aqui em Balneário Camboriú vai rolar o Cinerama, que é um festival bem bacana que promove filmes menos comerciais. Já conheci alguns muito bons por meio desde evento, só que para credenciais ele ainda é um pouco caro pra mim e acabo vendo algumas exibições gratuitas. Fiz uma oficina de projetos audio-visuais e já trabalhei em documentário também e vejo a grande dificuldade de se juntar verba pra colocar a coisa em ação. Infelizmente o que vende não é o que geralmente é bom.
    Um beijão e obrigada pelas dicas!

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    1. Oi Grazy, tudo bom?
      Esses eventos costumam ser muito bons para conhecer filmes que estão fora do circuito comercial! Quando puder venha à SP, aqui tem festivais muito bons, com preços bem acessíveis.
      Que legal! Então você também tem interesse em trabalhar na área?!
      Beijo querida, e obrigada pela visita!

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  3. Cara que post maravilhoso! Eu não sabia dessas duas notícias lindas que você compartilhou e fico mega feliz que a lei já exista e que filmes nacionais serão exibidos no SPCine!
    Eu vou te falar que não gosto do cinema nacional por, justamente, ser mais voltado à essa linha de humor (que às vezes de humor não tem nada). Tanto é que quando eu vejo algum filme que foge dessa realidade humorística eu acho tão bom que até falo "esse filme é tão bom que nem parece brasileiro". Sei que é errado eu pensar assim mas é como eu vejo as coisas no Brasil.
    E pelo o que você mencionou no post a forma de distribuir um filme é quase a mesma peleja que ótimos escritores enfrentam para sair do independente e conquistar uma editora. Ultimamente estou bem decepcionada com elas (as editoras) por investirem em livros de blogueiros com mais de 200 mil seguidores. E é bem essa linha que os filmes maravilhosos seguem: esses blogueiros vão dar mais audiência e venda de livros que um autor totalmente desconhecido falando de alguma coisa que não seja humor.
    É uma escrotice sem tamanho.

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    1. Oi Jéssica, tudo bom?
      Essa onda de vender livros de blogueiros me assusta muito! Esses dias entrei em uma livraria e não encontrei sequer um livro! Só tinha livros de blogueiros e youtubers e livros para colorir... Fiquei me perguntando onde teriam posto a literatura... Não sei muito bem como é apara escritores e editoras, mas acho que deve ser o mesmo percalço sim!
      Dê mais uma chance aos filmes nacionais! Se for de SP procure os cinemas que eu citei ali em cima no final do post, eles geralmente passam filmes muito bons fora do circuito comercial!
      Beijos querida, e obrigada pela visita! <3

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  4. Que assunto interessante e necessário de ser abordado.
    Acho que por motivos assim fazem com que muitos ignorem filmes nacionais, conheço muitos que torcem o nariz só de saber que o filme é de produção brasileira, mesmo sendo esses patrocinados, o que é lamentável, pois existem -como você mesma citou- diversas produções lindas de se assistir... Em tv por assinatura existem dois canais brasileiros que passam vários filmes de produção independente brasileira, pena serem canais por assinatura :/

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    1. Sim, é realmente uma tristeza que os filmes bons fiquem limitados a esse pequeno espaço na TV fechada, dar mais espaço à produção nacional seria de crucial importância para acabar com o preconceito que recai sobre nossas produções.
      Beijos querida, e obrigada pela visita!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Apesar de filmes nacionais não entrar no meu gênero preferido, tem um ou outro que são muito bons, sobre ser lei passar filmes nacionais em sala de aula eu não sabia, muito interessante e informativo o seu post :D

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    1. Oi Line, obrigada pela visita ao nosso blog! Volte sempre!

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